A eficiência revelada pelos técnicos portugueses têm rendido contratos atraentes para treinar mundo fora. Atualmente são 106 treinadores portugueses trabalhando no estrangeiro. O principal destino é o continente europeu, mas é crescente a presença no Brasil, África, Médio Oriente, em seleções nacionais e também nos escalações inferiores.
A participação de treinadores portugueses no estrangeiro não é de hoje. Em 1943, Jorge de Lima, ex-jornalista desportivo e praticante de boxe, recebeu convite para treinar a equipe de futebol do São Paulo, sendo três vezes campeão paulista, orientou ainda o Corinthians e foi selecionador do Brasil, mas somente em dois jogos. Outro português, Ernesto Santos, na mesma década, treinou o Vasco da Gama e o Flamengo, porém, não obteve sucesso. À época, era ex-jogador do FC sendo escolhido através de um anúncio de emprego publicado no Jornal do Brasil em julho de 1946. Artur Jorge foi o primeiro treinador emigrante a ter sucesso ao vencer a Taça da França (1993) e o campeonato (1994) com o PSG.
Os métodos de José Mourinho foram um divisor de águas, introduzindo uma nova forma de treinar e pensar o futebol, apostando numa comunicação provocadora, com os resultados que conhecemos. Enquanto Mourinho fez escola com um futebol pragmático buscando resultados, os treinadores mais novos preferem um futebol mais ofensivo e bem trabalhado, agregando um novo elemento que é a aposta na formação. O trabalho de todos esses veio reforçar a reputação dos treinadores portugueses, e abrir portas para que novos técnicos prossigam carreira no estrangeiro.
Sobre Mourinho prevalece uma verdade irrefutável: foi o único que ganhou títulos realmente importantes no mundo do futebol e que preenchem o currículo, os que vieram antes e depois, fizeram um trabalho competente nas ligas mais importantes e ganharam nas ligas periféricas, mas faltam-lhes grandes conquistas europeias. Apesar do peso de se vencer uma Taça Libertadores como fizeram Abel Ferreira e Jorge Jesus, ainda existe uma longa distância entre essa competição e a Liga dos Campeões.
A “febre” dos treinadores portugueses no Brasil não pára de crescer. O sucesso de Jorge Jesus no Flamengo e Abel Ferreira no Palmeiras disparou a procura dos clubes brasileiros pelos técnicos nacionais. Da mesma forma, há interesse da parte portuguesa em prosseguir carreira em um país que oferece boas condições de trabalho, nos mais ricos, principalmente, mesmo sabendo que a linha entre o êxito e o fracasso é muito tênue.
Na próxima temporada, que começa em 15 de janeiro com os campeonatos estaduais, há sete técnicos nacionais orientando algumas das seleções principais da Série A, campeonato cada vez mais competitivo. Abel Ferreira (Palmeiras), Vítor Pereira (Flamengo), Luís Castro (Botafogo), e Antonio Oliveira (Coritiba), são repetentes, e
Renato Paiva (Bahia), Ivo Vieira (Cuiabá) e Pedro Caixinha (Bragantino), estreiam no Brasileirão. Abel Ferreira aponta que “a competência não tem idade nem nacionalidade. Há treinadores portugueses e brasileiros bons e menos bons. É importante que tenhamos ideias diferentes, porque nos ajuda a crescer. Os dois países têm bons treinadores, assim como em outras áreas há bons e menos bons.” O treinador disse que tem três pilares fundamentais para o sucesso: “Desenvolver e valorizar os jogadores, desenvolver e valorizar o clube e valorizar o futebol”. E declarou: “a minha equipe técnica trabalha como uma empresa, em função do número de pessoas que trabalham comigo, a melhor forma de geri é delegar responsabilidades”. Disse ainda ter um código de honra com 141 parâmetros para apelar à necessidade de priorizar o sentido coletivo em detrimento das metas pessoais, assim se faz o sucesso de Abel Ferreira. Para Luís Castro, treinador do Botafogo, nem tudo é perfeito: “a forma alucinada como o futebol brasileiro tritura treinadores é surpreendente. Eu acho que a troca constante de treinadores retira o poder de liderança. Porque todos à sua volta sabem que se algo falhar só vai haver um responsável. Então pode haver uma desresponsabilização coletiva que prejudique o desenvolvimento de um clube”, fez questão de frisar o técnico português.
O trabalho dos técnicos nacionais pode ser medido pelos sucessos conquistados nos quatro cantos do mundo. Anteriormente, 12 técnicos portugueses venceram campeonatos e taças nos países onde trabalhavam. José Mourinho voltou às vitórias internacionais com o triunfo na Conferência com a Roma, fazendo o pleno de taças europeias. Abel Ferreira levou o Palmeiras à vitória no Brasileirão, ganho também no campeonato paulista e Recopa Sul-Americana. Na Europa, Pedro Martins foi campeão na Grécia com o Olympiacos, atualmente, treina o Al Gharafa, do Qatar, Jesualdo Ferreira ganhou o campeonato e a taça do Egito com o Zamalek, Leonardo Jardim venceu a Super taça da Arábia Saudita com o Al Hilal e Sá Pinto venceu troféu idêntico no Irã com o Esteghlal.