Em busca do sonho: brasileiro busca acesso inédito com a camisa do Bregenz, da Áustria

Nascido na cidade de Taubaté, no interior de São Paulo, Gabryel Monteiro ganhou destaque no futebol após disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Taubaté, clube da sua cidade natal.

Com boas atuações, chamou a atenção do Austria Lustenau, um dos mais tradicionais clubes do futebol da Áustria, e que, na época, disputava a segunda divisão do país.

Após passar por alguns países e adquirir experiência, ele retornou na temporada passada para o futebol austríaco, sendo anunciado pelo Bregenz, que conseguiu o acesso da terceira para a segunda divisão da Áustria.

Com a expectativa de fazer história e conquistar um acesso inédito com o Bregenz para a Bundesliga, Gabryel segue focado e é hoje um dos principais nomes da equipe. Em entrevista exclusiva ao Minha Torcida, ele relembrou sua carreira e contou sobre o atual momento vivido no Bregenz.

Em busca do sonho: brasileiro busca acesso inédito com a camisa do Bregenz, da Áustria

O início do sonho de Gabryel

O meia-atacante teve destaque no Taubaté, na Copa São Paulo de 2017. As boas atuações e o destaque no clube paulista chamaram a atenção do Austria Lustenau, um dos principais clubes do futebol austríaco e que se encontrava na segunda divisão do país.

Gabryel chegou a fazer a pré-temporada pelo clube. Mas, por conta do limite de estrangeiros, o jogador acabou sendo emprestado logo em seguida, para o Eschen/Mauren, de Liechtenstein. O atleta contou sobre este início de carreira e pontuou as diferenças entre aquela época e seu atual momento na Áustria.

“Eu sai do Taubaté, depois de uma Copa São Paulo e fui diretamente para o Lustenau. Na época eles estavam na segunda divisão e atualmente estão na primeira divisão da Áustria. A diferença daquela época para hoje em dia é muito grande. Naquele momento não tinha muita experiência e hoje, depois de atuar em alguns países, estar mais velho e com facilidade para me comunicar, me sinto mais maduro.

Na época, quando eu cheguei, não tive tanta oportunidade, por uma sequência de fatores e agora, mais maduro, sou um dos pilares da equipe”, afirmou Gabryel, que atualmente está no Bregenz.

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Divulgação /Lustenau

A vida na pacata Liechtenstein

Sem uma liga oficial, os clubes do país disputam anualmente a Copa de Liechtenstein, um torneio de curta duração com apenas sete equipes. Para manter o calendário em dia, os times optam por entrarem no Campeonato da Suíça.

O Vaduz, por exemplo, que inclusive já jogou competições internacionais, é um dos maiores vencedores do país e alterna entre a primeira e a segunda divisão da Suíça. Gabryel contou sobre sua experiência e revelou uma surpresa que teve ao chegar pela primeira vez ao país europeu.

“Logo que eu cheguei no Lustenau, tinha a questão do limite de estrangeiros e por ser o mais novo acabei “sobrando”. Eles decidiram por me dar uma oportunidade de jogar em outra liga, diferente da que o clube jogava, para eu ter esta experiência e foi ai que surgiu a chance de jogar em Liechtenstein. Isto aconteceu nos últimos dias da janela de transferências. Eu lembro que eu fui para lá, que dá uns 30/40 km de Lustenau e conheci a estrutura do clube. Era melhor do que de muitas equipes da segunda e de divisões abaixo da Áustria e isto foi um ponto, que para mim, foi muito positivo. Fiquei pensando: “Como eles não tem a sua própria liga e tem toda esta estrutura?”, comentou.

Fundado em 1963, o Eschen/Mauren é um dos mais tradicionais e vencedores clubes do país. Disputa atualmente a quarta divisão da Suíça, onde está na terceira colocação do Grupo 3, apenas dois pontos atrás da zona de classificação para a próxima fase.

Na Copa de Liechtenstein já saiu vitorioso em cinco oportunidades e inclusive já disputou as fases eliminatórias da Europa League, não conseguindo avançar para as fases seguintes. Gabryel que contou sobre algumas dificuldades que passou, principalmente por conta do idioma.

“Foi uma experiência diferente, porque eu era muito jovem e tive dificuldades de entender como um time era de um principado, era de um país, mas jogava em outro. Me desenvolvi muito como jogador e onde meu alemão melhorou muito. No clube da Áustria a gente tinha pessoas que traduziam para a gente e lá eu não tinha ninguém, foi onde eu mais me dediquei aos estudos do alemão”, pontuou.

Próximo de Alemanha, Áustria e Suíça, Liechtenstein tem como idioma oficial o alemão. E a proximidade com os vizinhos não é apenas na língua, mas também no futebol. Por conta das origens, o futebol praticado no país é mais físico e tático, assim como na Alemanha, o que foi explicado por Gabryel.

“Quando eu cheguei aqui foi um choque de futebol. Aqui eles são muito focados na parte tática. Assim como em Liechtenstein, é um futebol de muita força e de muito contato físico e demorei para me adaptar. No Brasil a gente joga um futebol diferente e aqui é mais pelo lado da tática e da força. Eu não cheguei a morar em Liechtenstein, porque o clube que eu joguei era próximo da Áustria, então eu vinha de outro pais para jogar pelo Mauren”, explicou.

Mudança de cultura, a nova vida em Omã

Após a passagem pelo futebol europeu, Gabryel resolveu virar a chave e aceitou a proposta para atuar em Omã, país que não conta com muitos brasileiros. Na entrevista para o Minha Torcida, ele afirmou que passou por uma situação bem complicada e que hoje fala em tom de brincadeira, mas que na época foi um perrengue.

“No primeiro dia que eu cheguei de viagem, não tinha participado do treino, principalmente por conta do cansaço da viagem, que foi quase 24 horas. Depois do treino, teve um jantar com jogadores e eu tava com muita fome. Eles botaram um tapetinho no chão, colocam um prato grande e eles sentam entre quatro, cinco jogadores ao redor e cada um vai pegando sua parte. Eu tava meio tímido e me lembro que um jogador me ofereceu um pedaço grande de frango. Aquilo foi um choque, fiquei pensando como um cara pode pegar na minha comida e na época falei que tinha comido em casa já”, comentou.

Território que não consta com muitos brasileiros, Omã vem sendo o destino de alguns atletas brasileiros, que optam por não ir nem para a Arábia Saudita. Tendo clubes poucos conhecidos, o país carrega consigo uma paixão muito forte pelo futebol e, assim como nos demais países da região, nutre uma grande paixão pelos jogadores brasileiros. Gabryel, que teve passagem pelo Al-Khaboora, contou sobre a vida em Omã.

“Os brasileiros que estão indo para o Oriente Médio geralmente vão para o Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Catar, mas é difícil ouvir falar de brasileiros indo para Omã. Foi uma experiência pessoal e profissional fantástica, uma cultura muito diferente do que eu estava acostumado. No começo foi muito difícil, em todos os aspectos e depois que consegui me adaptar foi sensacional viver naquele país. Antes de ir para lá eu nem conhecia direito o futebol lá. Descobrir como é Omã no dia a dia é uma experiência gigantesca pra mim. A diferença lá é em relação a tudo que envolve a rotina do país. Os dias da semana lá são diferentes.

A semana começa no domingo e termina na quinta-feira, sendo que o final de semana deles é sexta e sábado. A alimentação lá é muito diferente, eles se alimentam com as mãos, não usam talheres. Treinamento é no final da tarde, início da noite, por conta do calor. No começo este choque de cultura foi muito estranho. A minha ida para lá foi muito rápida, já que em quatro dias eu já estava viajando. Neste meio tempo estava ajustando documentação”, afirmou o atual jogador do Bregenz.

Em busca do sonho: brasileiro busca acesso inédito com a camisa do Bregenz, da Áustria
Divulgação

A diferença das torcidas dos países

Conhecida pela sua paixão, os torcedores locais fazem verdadeiras loucuras. Fabinho, jogador com passagem pelo Liverpool e atualmente no Al-Ittihad, ganhou um relógio de alto valor e, nos últimos anos, torcedores andam gastando fortunas para agradar os atletas brasileiros.

Outro país fanático por futebol é a Malásia, mesmo sua seleção não tendo muita projeção, os locais tem admiração pelos brasileiros e carregam consigo um amor muito grande pelo futebol.

Gabryel, atual meio campista do Bregenz, comentou um pouco sobre a sua experiência com os torcedores dos países e contou uma curiosidade que rolou após um jogo.

“Tanto aqui, na Áustria, quanto no Brasil e Omã e Malásia, que eu também joguei, as torcidas são completamente diferentes. O Brasil tem um fanatismo maior, pessoal enxerga o jogador como um herói, como uma pessoa diferente e aqui na Europa eles olham o jogador como um outro trabalhador. A ida ao estádio é visto como um entretenimento. Muitas famílias vão aos jogos. Em Omã e na Malásia um pouco semelhante, com um pessoal muito fanático por futebol.

Eles adoram brasileiros. Por onde você anda, quando descobrem que é brasileiro, eles brincam de Ronaldo, Neymar e querem tirar foto e um autografo, tem estas diferenças. Lá eles acabam te respeitando. Se você está no teu momento de lazer eles não te abordam tanto. Só em treinos e antes dos jogos eles pedem uma foto, um autografo e tentam se comunicar com a gente”, comentou.

Gabryel ainda comentou que durante um jogo que a equipe ganhou e ele foi o autor da vitória, acabou recebendo dinheiro dos torcedores em agradecimento a boa atuação.

Ida para a Malásia e torcida na Áustria

Após a saída de Omã, Gabryel novamente foi para um país com cultura diferente e assinou com o Kuching City, da Malásia. Fundado em 2015, o clube disputa atualmente a primeira divisão do país.

Na atual temporada eles não estão bem e na lanterna do torneio, correm riscos de serem rebaixados para a segunda divisão. Sobre a passagem pelos Cats, Gabryel Monteiro conta sobre a vida no país e contou um episódio que demonstra toda a paixão dos torcedores pelo futebol.

“Minha esposa brinca que a nossa vida é uma loucura. Um ano atrás a gente estava em um lugar e dois anos depois estávamos em outro lugar. Eu era para ter ido antes para lá, mas o clube não tinha me liberado e foi um país que eu gostei muito. Apesar das diferenças, é uma cultura mais voltada a nossa. A maior parte são muçulmanos, mas tem uma mentalidade mais aberta a religião, eles não se vestem diariamente com a roupa tradicional deles.

Se tivesse a oportunidade de retornar para lá, pensaria com carinho. Eu cheguei a jogar para quase 30 mil pessoas, nas quartas de finais da Copa da Malásia, eles vão no estádio, tem a torcida organizada, compram camisa. É o torcedor mais próximo do Brasil. As vezes a gente estava no shopping e surgia uma foto nossa no Instagram. Eles tratam o jogador como um ser humano diferente”, afirmou Gabryel.

Em busca do sonho: brasileiro busca acesso inédito com a camisa do Bregenz, da Áustria
Divulgação

O clube manda seus jogos no Sarawak Stadium, com capacidade para quase 26 mil pessoas, ou seja, o clube tem quase a lotação máxima durante algumas partidas.

Gabryel decide que é hora de voltar para a Áustria e busca fazer história pelo Bregenz

Vindo da terceira divisão da Áustria, o SW Bregenz, esta na terceira posição da Erst Liga, a segunda divisão do país. Vindo de empate na última rodada, em um confronto contra o Ried, o clube está apenas cinco pontos do primeiro colocado, único que garante o acesso para a primeira divisão.

“Começamos bem. Depois de 19 anos o clube volta a jogar as principais divisões do país. Estão vendo a gente com uma certa surpresa, por estar subindo da terceira para a segunda divisão e estar nas primeiras posições, com o melhor ataque e uma das melhores defesas” , completou.

Otávio Silva Otávio Silva

Estudante de jornalismo com experiência em assessorias de imprensa e em portais de noticias. Apaixonado por escrever sobre esportes, mas com uma paixão ainda maior pelo futebol. Gaúcho de Porto Alegre e admirador do futebol raiz.

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