Todo mundo se lembra de certas Copas do Mundo por determinadas razões. Seja a explosão de Michael Owen nas linhas Argentinas aos 17 anos na França em 98, ou o momento “mão de Deus” de Diego Maradona no México em 86, todos nós temos lembranças inesquecíveis da Copa.
Para os torcedores de uma certa geração, a vitória da Itália na renovação de 1982 do torneio de futebol mais prestigiado do mundo na Espanha ficará na memória por muito tempo.
Gerenciados por Enzo Bearzot, tendo como capitão o lendário goleiro Dino Zoff, e com o extraordinário goleador Paolo Rossi liderando a linha, os italianos duros na queda se mantiveram firmes durante a fase de grupos, lutando por três empates, antes de entrar em ação nas eliminatórias,onde venceram a Argentina, Brasil e Polônia, antes de derrotar os alemães por três gols a um na final.
Memorável por outro motivo
No entanto, para aqueles não italianos que se lembram, a memória dominante daquele torneio não tinha nada a ver com a vitória italiana. Muitos se lembram da Copa do Mundo de 1982 por um péssimo lance do goleiro Harald Schumacher na semifinal entre a Alemanha Ociental e a França, partida hoje conhecida como ‘Noite de Sevilha’.
Considerado por muitos como um dos maiores jogos de futebol de todos os tempos, e também um dos melhores confrontos da Copa do Mundo, dois gigantes do jogo internacional se enfrentaram no Estádio Ramón Sánchez Pizjuán e realmente eles serviram um clássico.
O jogo tinha tudo. Ação de ponta a ponta, resistência defensiva e passagens complexas de jogo eram lindas de se ver, principalmente quando os meios-campos franceses pegavam a bola. Teve contra-ataques arrebatadores e incríveis gols também. O que o jogo também teve foi uma das colisões mais famosas da história do futebol.
Durante a segunda metade da partida, o técnico francês Michel Hidalgo queria mudar as coisas, então ele escalou o zagueiro Patrick Battiston aos 50 minutos de jogo. Com o jogo bem equilibrado em 1 a 1, Battiston, com apenas dez minutos em campo, se viu em uma posição que não estava familiarizado, o cara estava muito avançado com sua equipe no ataque.
Michel Platini, considerado por uma série de ex-jogadores e fãs como o melhor jogador de sua geração, fez um belo passe por cima, perfeito para Battiston correr. E a bola foi até ele, lançando um chute de primeira, chutando como um zagueiro e errando o alvo, e a bola foi tomada por Harald Schumacher.
Em relação aos lances, o de Schumacher foi ficando ruim ao longo do jogo. Não só o goleiro da Alemanha Ocidental entrou tarde, mas tão tarde que a bola estava quase fora de alcance na borda da área de 18 metros, mas ele foi a 1 metro acima, batendo em Battiston desatento na altura da cabeça, mandando ele para o chão de forma violenta. Essa jogada já teria sido extrema em uma competição do UFC, imaginem em um campo de futebol.
O resultado de um golpe tão mal cronometrado de francamente cruel foi que o francês ficou inconsciente em campo. Não só ele estava desmaiado, mas Battiston havia perdido vários dentes. Após a inspeção médica, foi descoberto que ele havia sofrido danos significativos em suas vértebras, o que mais tarde o levou a entrar em coma.
E, no entanto, o mais louco do incidente não foi que Schumacher tenha saído do chão com os dois pés, girando no ar, antes de acertar agressivamente a parte superior do corpo do adversário, foi que o árbitro responsável pelo jogo, um holandes chamado Charles Corver, de alguma forma, não apitou por falta. Corver afirmou que se tivesse visto o lance novamente, ele teria marcado uma falta e admitiu que provavelmente teria expulsado o goleiro da Alemanha Ocidental.
Após a saída de Battstation, que teve que receber oxigênio em campo antes de ser retirado em uma maca, o árbitro retomou o jogo e concebeu aos alemães um chute ao gol cobrado pelo vilão da vez, Schumacher.
Os jogadores franceses continuaram lutando, tentando desesperadamente vingar seu companheiro de equipe lesionado. Eles chegaram a centímetros de vencer no final do jogo, quando o lateral-esquerdo Maxime Bossis acertou a barra com um estrondoso chute de longa distância minutos para o final. Não teve um vencedor aos 90 minutos, mas foram os franceses que receberam o que devem ter pensado ser sua justa recompensa quando abriram a vantagem no início da prorrogação, graças a Marius Trésor que marcou um gol aos 92 minutos.
Apenas seis minutos depois, a justiça parecia ter sido feita, e parecia estar tudo acabado,quando Alain Giresse marcou mais um gol, fazendo 3 a 1 para a França.
Com pouco mais de 20 minutos restantes, um retorno parecia menos provável, mas o Die Mannschaft estava determinado em sua abordagem. Um gol aos 102 minutos de Karl Heinz Rummenigge, que terminou o torneio como o segundo maior artilheiro com o cinco gols, abriu caminho para uma reviravolta da Alemanha Ocidental, e depois de 108 minutos, quando Klaus Fischer habilmente enfiou a bola na rede,essa luta estava finalizada.
O jogo foi para os pênaltis. Como costuma acontecer, a disputa foi favorável aos alemães que venceram por 5 a 4 após cinco cobranças de pênaltis de cada time. Agora o inimigo número um dos franceses, Schumacher fez a diferença defendendo um pênalti de Maxime Bossis, que foi o único jogador a errar o pênalti.
Na época da Copa do Mundo de 1982, a França tinha o que era considerado o melhor meio-campo do mundo, e muita gente achava que os franceses, com craques como Michel Platini, Alain Giresse e Marius Trésor em suas fileiras, dariam tudo. Muitos ainda acreditam, que se não tivessem sido abalados pelo terrível incidente e pelo fato de o erro de Schumacher ter ficado impune, “Os azuis” não apenas passaria para semi-final, mas teria também levantado o troféu. Em vez disso, sempre foi um caso do que poderia ter sido para alguns dos melhores jogadores de todos os tempos representar a nação da França.
Para Schumacher e os alemães ocidentais, a Copa do Mundo continuou, e foi a Itália na final, embora a sorte que viu o goleiro permanecer em campo sem ter levado um cartão na semifinal se esgotou em Madri. Os italianos provaram ser fortes demais,marcando três gols antes que a Alemanha Ociental pudesse responder com um gol de consolação aos 83 minutos marcado por Paul Breitner.
O que aconteceu depois?
Harald Schumacher fez 548 jogos na carreira a nível de clubes, sendo parte integrante de uma equipe do FC Koln que conquistou um título da Bundesliga e três DFB Pokals entre 1978 e 1983. No final da sua carreira, tinha acumulado 76 aparições no gol para a Alemanha Ocidental também, jogando em duas Copas do Mundo, incluindo a edição de 1986, onde mais uma vez enfrentaria a França e Patrick Battiston, O francês comentou antes das duas equipes se enfrentarem e afirmou que havia “perdoado e esquecido”.
Apesar de jogar na final da Copa do Mundo em 1982 e 1986, Schumacher nunca colocou as mãos no maior prêmio do futebol, mas estava entre as traves quando a Alemanha Ocidental caminhou para a vitória na renovação do Campeonato Europeu de 1980.
Após sua aposentadoria do futebol profissional, Harald Schumacher, conhecido pelos alemães como “Toni”, forjou uma carreira como treinador. Ele ocupou cargos de treinador de goleiros em vários clubes, incluindo Borussia Dortmund e Bayern de Munique.
Battiston fez uma recuperação que alguns pensavam não ser possível na época, muito menos Michel Platini, que foi o primeiro jogador a perceber a gravidade da situação após a colisão com Schumacher. O capitão francês disse aos repórteres após o jogo em Sevilha que primeiro pensou que seu companheiro de equipe poderia estar morto pelo fato dele não ter pulso naquele momento, juntamente com o fato de estar estranhamente pálido.
Após cuidados médicos e tratamento, Battiston voltou ao campo e, no final de sua carreira, fez 557 jogos pelo clube, conquistando vários troféus da Liga 1 com Saint-Étienne, Bordeaux e Mônaco. Um jogador chave para a França durante a década de 1980, Battiston fez 56 aparições na seleção francesa, e em 1984, ele alcançou a vitória internacional quando os franceses venceram o Campeonato Europeu em casa.
Para Battiston, os dias de ex-jogador foram dedicados para trabalhar para o Bordeaux, clube onde passou a maior parte de sua carreira. Mais notavelmente, ele atuou como chefe da academia e teria sido parte integrante do clube, contratando alguns jovens jogadores promissores.
Nem Patrick Battiston nem Harald Schumacher, que conquistaram muito com os clubes pelos quais jogaram e com seus respectivos países, gostariam que seus legados no futebol se reduzissem a um único momento, e por mais impossível que seja, é um momento que ambos provavelmente gostariam de esquecer, por outro lado, graças àqueles poucos segundos no Ramón Sánchez Pizjuán em 1982, os dois jogadores ficaram gravado na história e, tal qual, os fãs nascidos muito depois daquela noite em Sevilha sabem seus nomes.