Irã x EUA entram em campo nesta terça-feira (29), às 16h (horário da Brasília), no Al Thumama Stadium em partida válida pela 3ª rodada da primeira fase da Copa do Mundo do Catar 2022.
Mas o que entra em campo também não é só o esporte. Segundo a Tasnim News Agency, agência ligada ao governo do Irã, a Federação de Futebol do país acionará o Comitê de Ética da Fifa pedindo a exclusão dos americanos da competição.
A razão do descontentamento iraniano está em uma publicação feita pelos EUA que omitiu as referências ao islamismo inscritas em sua bandeira nacional.
Irã x EUA começou ”antes”
Consultando a página dos EUA no Twitter a correção foi feita.
Two days away. pic.twitter.com/iPz10sFNto
— U.S. Men's National Soccer Team (@USMNT) November 27, 2022
Mas as tensões entre os dois países ultrapassam os limites dos estádios de futebol do Catar.
Fora das quatro linhas
Os mais jovens e que veem o Irã hoje podem não imaginar que o país já teve uma cultura muito influenciada pelo ocidente. Teerã, em 1943, sediou o encontro dos líderes mundiais, ingleses e soviéticos, que direcionaram os ataques contra os nazistas alemães e que mudou o rumo da Segunda Guerra (1939-1945).
É recorrente nas redes sociais postagens que mostram a vida das mulheres iranianas e seu comportamento muito próximo das ocidentais até 1979. No Catar, entre as várias causas ligadas aos direitos humanos, uma delas é o protesto das mulheres pela liberdade de assistir as partidas de futebol direto das arquibancadas.
A vida das mulheres no Irã antes e depois da Revolução Islâmica #ArquivoBBC https://t.co/Qnd98DCuVn pic.twitter.com/zcBtVI7djo
— BBC News Brasil (@bbcbrasil) October 26, 2020
Em 1979, a Revolução Islâmica mudou os rumos culturais e políticos do Irã. O líder da oposição aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado em Paris, comandou a tomada do poder e a derrubada do líder pró-ocidente, Reza Pahlevi. Em abril de 1979 o Irã se tornava uma República Islâmica Teocrática.
Tentando intervir no conflito e num contexto de Guerra Fria, os EUA se tornaram inimigos dos iranianos e “infiéis” aos olhos dos islã. Em 4 de novembro de 1979, manifestantes a favor da revolução islâmica ocupam a embaixada norte-americana em Teerã mantendo reféns 52 pessoas por um período de 444 dias.
Este episódio custou a reeleição do presidente Jimmy Carter, do Partido Democrata. Até horas antes de entregar o poder ao Republicano Ronald Reagan, em janeiro de 1981, Carter tratava ainda da desocupação da embaixada em Teerã.
As tentativas de reaproximação e a Copa da França 1998
Em 1997, o então presidente Bill Clinton, do Partido Democrata, acenava com a possibilidade de uma reaproximação com o Irã.
O sorteio para a formação dos grupos para a Copa da França de 1998 deixou algumas interrogações sobre o futuro político entre os dois países. EUA e Irã caíram no mesmo grupo, juntamente com Alemanha e Iugoslávia. Havia um receio de que as animosidades entre os países se refletissem nos arredores do Stade de Gerland, em Lyon.
A partida entre as duas equipes foi antecedida por uma relação amistosa. Os atletas iranianos entregaram flores aos americanos após a execução dos hinos nacionais e posaram para uma fotografia cujo pano de fundo revela uma intrincada malha política e diplomática.
Em campo, o Irã, que não jogava uma copa desde a Argentina em 1978, venceu os EUA por 2 x 1. Ambas as equipes não se classificaram para as oitavas-de-final. A participação do Irã nas eliminatórias para as copas da Espanha em 1982 e do México em 1986 também refletem as tensões fora da campo provocada pela Revolução Iraniana de 1979. O país desistiu de participar das mesmas.
Os ataques de 11 de setembro às torres gêmeas de Nova Iorque acabaram afastando novamente os dois países. Acusado de ter ligações e financiar o terrorismo internacional, os EUA, no governo do Republicano George W. Bush, qualificaram o Irã com um dos países componentes do chamado “eixo do mal”, juntamente com o Iraque e a Coreia do Norte.
Entre tentativas de aproximação e afastamentos, resta saber se a condução dessa política fora da campo terá reflexos na partida de logo mais. Resta saber também como a Fifa julgará o pedido da Federação Iraniana caso ele realmente de concretize.